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Escrito por:
Lilian Carla de Jesus
Ana Carolina Bonagamba
Na segunda parte do livro "O Consolador" de autoria do Espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, capítulo II, sentimento, pergunta 161 "O que é arte?", Emmanuel fornece a seguinte resposta:
"A Arte pura é a mais elevada contemplação espiritual por parte das criaturas. Ela significa a mais profunda exteriorização do ideal, a divina manifestação desse "mais além" que polariza as esperanças da alma. O artista verdadeiro é sempre o "médium" das belezas eternas, e o seu trabalho, em todos os tempos, foi tanger as cordas mais vibráteis do sentimento humano, alçando-o da Terra para o infinito e abrindo, em todos os caminhos, a ânsia dos corações para Deus, nas suas manifestações suprema de beleza, de sabedoria, de paz e de amor"
Na filosofia, a Arte é vista como expressão do homem fundamentada a partir da reflexão dos elementos da natureza e abrange diferentes áreas como a pintura, a escultura, a música, o desenho, a fotografia entre outros e está presente desde épocas remotas da história humana, sendo utilizada inclusive por povos primitivos que se utilizavam das paredes das cavernas e de rochas para ilustrar fatos do cotidiano.
Dentre os diversos estilos de arte encontramos a música, definida como:
"Música , arte preocupada em combinar sons vocais ou instrumentais para a beleza da forma ou expressão emocional, geralmente de acordo com os padrões culturais de ritmo , melodia e, na maior parte da música ocidental, harmonia. Tanto a música folclórica simples quanto a complexa composição eletrônica pertencem à mesma atividade, a música. Ambos são humanamente projetados; ambos são conceituais e auditivos, e esses fatores têm estado presentes na música de todos os estilos e em todos os períodos da história, em todo o mundo." (EPPERSON G. Encyclopædia Britannica. 2019. In: <https://www.britannica.com/art/music>. Acesso em 13 de maio de 2019.
Beethoven, numa citação de enorme sabedoria, diz: "Milhares de pessoas cultivam a música; poucas porém têm a revelação dessa grande arte". Pode soar arrogante no primeiro momento, entretanto, uma análise moderna fundamentaria este discurso partindo do preceito de que a interpretação artística - a forma como a arte, e no caso, a música conversa com você - é na verdade uma somatória de fatores bastante específicos relacionados ao ambiente que o ser humano cresceu e de todas as experiências adquiridas em seu desenvolvimento intelectual. Ademais, tais experiências podem ser absorvidas de diferentes formas ao longo do amadurecimento (e do grau de elevação desse mesmo ser). Por isso, uma mesma música pode ser percebida de diferentes formas, podendo causar a mais feliz impressão ou o mais profundo pesar.
A música não só está presente no plano dos encarnados mas também faz parte da vida espiritual. Em diversas obras espíritas a música aparece como manifestação dos sentimentos dos espíritos e também como um meio de favorecer a conexão com o Criador.
Com relação ao plano dos encarnados, a expressividade musical é tão importante no sentido de promover uma conexão com Deus que, em períodos históricos, como Renascimento, existiam tratados que mostravam relações harmônicas e estruturais "capazes de elevar o ser" conduzindo-o a uma sensação específica através do som. A seriedade desde movimento foi tamanha que alguns acordes mais "tensos" tiveram sua execução proibida em celebrações sacras. Nesta sociedade, Deus se comunicaria pela música como nos comunicamos pela palavra e, para que esta palavra fosse unânime entre Seus filhos, todas as escolas musicais deveriam seguir as mesmas instruções.
É importante ressaltar que a conexão espiritual esta intimamente ligada à sensação de bem estar e paz causada pela combinação perfeita de melodias e harmonias, exploradas especialmente por compositores como Bach, Mozart e Beethoven. Suas obras comuns são consideradas imortais e estão à mercê das diversas gerações que se seguem, mas parece existir uma opinião formal generalizada de que a música destes compositores causa uma influência inegável nas emoções de todas as pessoas, inclusive as que não possuem estudos técnicos e teóricos de música. Os três compositores citados possuíam uma relação bastante próxima com o Criador imposta pelos próprios costumes de suas épocas, e se valeram desta proximidade para explorar o que possuíam de melhor em caráter pessoal e artístico.
A música exerce efeito tão significativo para nós enquanto seres espirituais que pode-se verificar nas obras de André Luiz, por exemplo, a sua presença constante na Colônia Espiritual conhecida como Nosso Lar. Na obra, o autor ressalta alguns momentos em que a música ouvida na colônia chamou a sua atenção, sendo um destes momentos o da prece crepuscular:
"Mal não saíra da consoladora surpresa, divina melodia penetrou quarto a dentro, parecendo suave colmeia de sons a caminho das esferas superiores. Aquelas notas de maravilhosa harmonia atravessavam-me o coração. Ante meu olhar indagador, o enfermeiro, que permanecia ao lado, esclareceu, bondoso:
- É chegado o crepúsculo em "Nosso Lar". Em todos os núcleos desta colônia de trabalho, consagrada ao Cristo, há ligação direta com as preces da Governadoria." (André Luiz. Nossa Lar. Cap. 3. Oração Coletiva).
A música também aparece nos momentos finais da prece:
"Mal terminara a explicação, as setenta e duas figuras começaram a cantar harmonioso hino, repleto de indefinível beleza. A fisionomia de Clarêncio, no círculo dos veneráveis companheiros, figurou-se-me tocada de mais intensa luz. O cântico celeste constituía-se de notas angelicais, de sublimado reconhecimento. Pairavam no recinto misteriosas vibrações de paz e de alegria e, quando as notas argentinas fizeram delicioso staccato, desenhou-se ao longe, em plano elevado, um coração maravilhosamente azul (1), com estrias douradas. Cariciosa música, em seguida, respondia aos louvores, procedente talvez de esferas distantes." (André Luiz. Nossa Lar. Cap. 3. Oração Coletiva).
Neste ultimo trecho, nota-se a presença do canto. Entre nós, encarnados, o canto sempre foi uma das maneiras mais comuns de exaltação da palavra divina. Esta passagem nos dá referência a uma prática musical da idade média chamada de cantochão (ou canto gregoriano) que utilizava corais para enriquecer os salmos, literalmente. Neste estilo, a letra (cantada em latim) era mais importante do que a melodia em si, enfatizando as sílabas tônicas ou palavras de maior "afeto" pela movimentação melódica. Porém, foi apenas no Renascimento, período que contrapõe a Idade média, que esses coros tomaram uma forma gigantesca com centenas de vozes, e a música que era essencialmente católica (cantada em cultos específicos) ganhou espaço entre outras religiões e idiomas com o surgimento dos madrigais.
Fica óbvio então que não é só em momentos de oração que a música da o ar da graça inclusive no plano espiritual. Ela praticamente faz parte do cotidiano dos Espíritos como um estímulo ao trabalho a ser realizado. Ainda no livro "Nosso Lar", André Luiz se surpreende ao ouvir a música que se fazia ouvir pela colônia:
"Em plena via pública, ouviam-se, tal qual observara à saída, belas melodias atravessando o ar. Notando-me a expressão indagadora, Lísias explicou fraternalmente:
- Essas músicas procedem das oficinas onde trabalham os habitantes de Nosso Lar. Após consecutivas observações, reconheceu a Governadoria que a música intensifica o rendimento do serviço, em todos os setores de esforço construtivo. Desde então, ninguém trabalha em Nosso Lar, sem esse estimulo de alegria." (André Luiz. Nossa Lar. Cap. 11. Notícias do Plano)
Claro que de tão presente e de tão importante, a música mereceu um local específico só para ela na Colônia Espiritual Nosso Lar, conhecido como "Campo da Música". Este local é caracterizado por André Luiz como sendo um extenso parque banhado por lindas luzes, ornamentado com fontes luminosas, semelhante a um conto de fadas conforme a opinião do autor.
Outro fato interessante a se notar é que neste local há a manifestação de diferentes estilos musicais conforme nos informa Lísias:
"Nas extremidades do Campo, temos certas manifestações que atendem ao gosto pessoal de cada grupo dos que ainda não podem entender a arte sublime; mas, no centro, temos a música universal e divina, a arte santificada, por excelência." (André Luiz. Nossa Lar. Cap. 45. No Campo da Música)
A referência à música não aparece apenas nas obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier. Ela já aparece na Revista Espírita de 1858, onde em uma entrevista com Mozart (em Espírito) a melodia é definida como:
"Frequentemente, [a melodia] é para ti uma lembrança da vida passada; teu Espírito se lembra do que entreviu num mundo melhor. No planeta onde estou, Júpiter, a melodia está por toda parte, no murmúrio da água, o ruído das folhas, o canto do vento; as flores murmuram e cantam; tudo emite sons melodiosos."
Fato interessante trazido pelo Espírito de Mozart, na mesma entrevista, é que a música é um fenômeno diferente nos diferentes mundos, sendo percebida de forma diversa pelos Espíritos conforme o grau de evolução. Cabe lembrar que Mozart vive espiritualmente em Júpiter, local onde a comunidade espiritual que lá habita é bem mais evoluída do que os Espíritos vinculados à Terra:
"Nenhuma música pode vos dar a ideia da música que temos ali; é divina! Ó felicidade! merece gozar de semelhantes harmonias: luta; coragem! Não temos instrumentos; são as plantas, os pássaros que são os coristas; o pensamento compõe e os ouvintes desfrutam sem audição material, sem o recurso da palavra, e isso a uma distância incomensurável. Nos mundos superiores isso é ainda mais sublime."
De qualquer forma, quando a música toca e eleva a alma às alturas celestes ela se torna divina! Cabe-nos aproveitar desse recurso que Deus nos forneceu com sabedoria e amor.
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