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O Livro dos Espíritos tem como primeira pergunta "Que é Deus?" e a resposta fornecida pelos Espíritos não poderia ser mais clara: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.” A partir daí, Allan Kardec começa seu primeiro capítulo com várias perguntas direcionadas aos Espíritos comunicantes por meio de diferentes médiuns.
Discorrendo um pouco sobre o assunto, a resposta fornecida a esta primeira pergunta está de encontro com a lógica já que Deus, sendo a inteligência suprema nada nem ninguém pode lhe ser superior e sendo Ele a causa primária de todas as coisas é Ele, portanto, o criador de tudo o que existe no universo, não havendo a possibilidade dele ter sido criado, posto que ele mesmo é a causa de tudo, não sendo, como consequência, o efeito de coisa alguma.
Certo, mas alguém pode questionar: Mas o Universo se iniciou por meio do Big Bang, certo? Resposta: realmente ao que as pesquisas indicam, o Big Bang ocorreu, a questão é que o fato do Big Bang ter ocorrido em nada muda o fato de Deus existir. Ocorre que ainda não se sabe o que havia antes do Big Bang, e que apesar das teorias ainda falta a comprovação científica, que mesmo quando vier ainda assim não vai excluir Deus da equação, posto que conforme os próprios Espíritos disseram a Kardec, por mais logremos o início das coisas cada vez mais para longe, haverá um momento em que a única opção será Deus.
Sobre a questão da existência de Deus Kardec, no livro A Gênese, traz uma comparação bastante inteligente relacionada ao axioma de que não há efeito sem causa, fazendo uma comparação com Deus e um criador de um relógio:
"Um pêndulo se move com automática regularidade e é nessa regularidade que lhe está o mérito. É toda material a força que o faz mover-se e nada tem de inteligente. Mas, que seria esse pêndulo, se uma inteligência não houvesse combinado, calculado, distribuído o emprego daquela força, para fazê-lo andar com precisão? Do fato de não estar a inteligência no mecanismo do pêndulo e do de que ninguém a vê, seria racional deduzir-se que ela não existe? Apreciamo-la pelos seus efeitos. A existência do relógio atesta a existência do relojoeiro; a engenhosidade do mecanismo lhe atesta a inteligência e o saber. Quando um relógio vos dá, no momento preciso, a indicação de que necessitais, já vos terá vindo à mente dizer: aí está um relógio bem inteligente?"
Temos então que "Deus não se mostra, mas se revela pelas suas obras".
Falando um pouco sobre a Natureza Divina, Deus, para realmente ser superior a tudo e todos, deve estar isento de toda e qualquer imperfeição, possuindo em grau supremo todas as perfeições e, por uma questão de lógica Deus deve possuir os seguintes atributos:
· Deus é a suprema e soberana inteligência: A inteligência de Deus necessariamente necessita ser infinita, posto que se não fosse, outro ser poderia lhe ser mais inteligente e assim por diante até o infinito.
· Deus é eterno: Ou seja, não teve um começo e não terá um fim. Isso porque se Deus tivesse tido um começo Ele teria surgido do nada e o nada não sendo coisa alguma, nada pode produzir.
· Deus é imutável: Caso Deus se sujeitasse à mudanças, nenhuma estabilidade teriam as Leis que regem o universo.
· Deus é imaterial: Se Deus fosse feito da mesma matéria que nós ou de qualquer outra que sofre com transformações ou degradações ele não seria imutável.
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(Por lógica Deus não pode ser constituído da mesma matéria de nossos corpos ou Espíritos)
Não é fácil para nós imaginarmos Deus como sendo imaterial, até porque estamos muito acostumados (desde a antiguidade) a produzirmos uma imagem humana de Deus. Além disso, quase tudo o que conseguimos captar com os nossos sentidos ou com o uso da tecnologia é composto da mesma matéria que a nossa, ou seja, de prótons, neutros e elétrons. Esse fato torna ainda mais penoso pensar em algo completamente diferente. Temos também que considerar que nem mesmo o Espírito (a Inteligência que governa o corpo físico e sobrevive à morte deste) é composto por um tipo de matéria diferente das que conhecemos hoje. Temos portanto, o seguinte esquema: Deus não é espírito e nem matéria; a matéria não é Deus e não é espírito; e o espírito também não é Deus e também não é matéria.
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· Deus é onipotente: caso não possuísse o poder supremo, outro ser poderia tê-lo e este sim seria Deus.
· Deus é soberanamente justo e bom. Como Deus deve possuir todas as perfeições em grau absoluto, Deus não pode ser nem mal e nem injusto, já que, neste caso, Ele deixaria de ser perfeito nas virtudes da justiça e da bondade e possuindo características boas e más ele não seria perfeito em nada e alguém que o fosse, esse sim seria Deus. Além disso, caso Deus possuísse características boas e más, toda a criação estaria sujeita aos seus caprichos e nenhuma estabilidade haveria no universo.
· Deus é infinitamente perfeito: Conforme o livro A Gênese "É impossível conceber-se Deus sem o infinito das perfeições, sem o que não seria Deus, pois sempre se poderia conceber um ser que possuísse o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se mister que ele seja infinito em tudo".
· Deus é único: o fato de Deus ser único é fruto do fato de Deus possuir ao máximo todas as perfeições, não sendo possível ninguém ser superior a Ele ou até mesmo igual, mesmo porque, caso houvesse outro Deus igual a Deus e com todos os seus atributos, ambos, na verdade, acabariam por ser um só.
E nós, seres humanos, poderemos um dia sermos iguais a Deus? De acordo com os atributos de Deus não, e não há a menor possibilidade disso. Se um pedacinho de Deus pudesse ser colocado em um frasco de laboratório, esse pedacinho conteria todos os seus atributos, ou seja, todas as suas perfeições, e se o comparássemos a um outro frasco qualquer com o pedacinho da essência de alguém, por melhor que fosse esse alguém, não lhe seria igual já que esse alguém não seria imaterial, eterno, imutável e assim por diante.
E existe a possibilidade de haver algum ser que lhe seja o oposto, ou seja que seja absolutamente mal?
Já pela lógica conclui-se que não, porque sendo Deus o criador de tudo e sendo perfeito em tudo ele jamais poderia ter cometido o erro de criar alguém fadado ao mal por toda a eternidade e que iria ficar competindo pelo poder e pelo controle das coisas igualmente por toda eternidade. Ou seja, a ideia da existência de uma força demoníaca, de um diabo ou coisas do gênero é falsa. Todo o mal que se verifica em nosso planeta é apenas fruto da imperfeição dos seres que o habitam e que está fadado a desaparecer com o decorrer da evolução das criaturas. Cabe lembrar que todos fomos criados simples e ignorantes para nos desenvolvermos por meio do nosso próprio esforço e que somos regidos, entre outras Leis, pela Lei da Ação e Reação. Ninguém foi criado para estar fadado ao mal. Fomos criados por e para o Amor.
O fato de Deus ser único e perfeito em tudo também exclui a possibilidade da criação de seres perfeitos desde seu surgimento. Ou seja, a ideia de Deus ter criado anjos (perfeitos e felizes desde sempre) e humanos (que necessitam de tempo para evoluir e ser feliz) também é errada, pois Deus não poderia cometer tamanha injustiça. A Doutrina Espírita nos ensina que os anjos nada mais são do que Espíritos que alcançaram um alto grau de evolução pelo seu próprio esforço, mas que foram criados simples e ignorantes como todo mundo.
Considerando então todos os atributos de Deus e a reflexão realizada até o momento, podemos pensar em Deus como sendo um Pai de amor e bondade tal como relatado por Jesus.
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